sexta-feira, 2 de julho de 2021

 

Pedaço de Mim

 

A vida dum homem é uma doutrina, é um percurso mensorável, é um caminho extreito ou largo entre as correntes das águas turvas dos rios ou das chuvas. Não se traduz e nem se decifra o padrão do bom ou do mau homem ainda no berço, apenas sonhamos o seu futuro e a realidade dos factos o dita. Nasci orfão de pai poligamo, aos quatro de Março de mil, novecentos, oitenta e seis, em Maputo, distrito de KaMaxaquene, a minha mãe era a terceira e a mais nova esposa do meu pai e porque estava na terra idade, depois da morte do meu pai se casou novamente, antes de se casar devido a obediença das nossas crências e custumes tradicionais foi obrigada a se relacionar com o meu tio, irmão mais novo do meu pai, com quem teve o meu irmão que me segue. Imagine o que isso originou para a familia e como passamos a nossa infância, uma vez que o meu tio já era casado. Na prior o meu irmão foi rejeitado e a minha mãe foi obrigada a sair da nossa casa onde convivia com a sua irmã de lar que por acaso era também sua irmã de sangue. Passamos maus bocados e a nossa educação foi manchada de muitas turbulências familiares, e porque estavamos entregue a vida e a própria sorte, quando a minha mãe se juntou maritalmente com o meu padrasto, este nos reijeitou porque não éramos sangue do seu sangue. E ninguém fez nada da parte do meu pai, refiro-me aos meus tios, apenas a minha avó nos levou para os seus cuidados, que também não foram suficientes porque também tinha uma tropa dos seus filhos por cuidar com o suor da enxada na plantação de arroz no Mini Golf em Maputo. E para não termos falta de algo para comermos em casa dela onde havia muito milho e arroz para ser processado, eu e o meu irmão mais velho, ja felecido passamos a ser carregadores de mercadorias das senhoras que vendiam no mercado Xiquelene, Mavalane e Delina, com os pés descalços ajudava ao meu irmão a impurar a carrinha de duas rodas vulgo (tsova) no meu dialecto, no intervalo dos meus sete a nove anos. Não sei se foi a vontade de Deus ou do meu pai mas por duas vezes fiquei doente e tive que ser atendido pelo meu padrasto e pela minha mãe, e nesse tempo o meu irmão que me tinha como o seu braço direito abandonou a carrinha e refugiou-se na vida de menino de rua na Baixa da Cidade de onde veio a contrair a doença crônica que lhe seifou a vida. Muito antes, a minha mãe foi lhe resgatar para sua casa na altura Polana Caniço, donde não durou muito tempo, porque não gostava do meu padrasto e ele também não gostava quase de ninguém de nós. Q

uanto a mim o destino quiz que estivesse e crescesse ao lado deles até ao fim da vida dele. Não nasci no berço do ouro, nem de prata muito menos de bronze, se parecer isso,  foi com muita luta e muito sacrifício que a vida me deu para talvez ser exemplo de muitos que deslixam as suas próprias vidas e se deixam marginalizar só pelos simples factos de serem rejeitados ou deixados de lados ou para trás pelos seus familiares. A vida é uma boa escola para cada um de nos não importa a condição material, moral ou os meios com que vivemos e crescemos, no final o destino tira em nos o seu belissimo exame. Se não fosse o que acima relatei talvez essa altura teria sido um senhor das minhas próprias desgraças ou dum império familiar deixado pelo meu pai dividido pelos herdeiros, lamentavelmente não herdi nada apenas o nome e o apelido do meu pai, e a desgraça de ver os meus irmãos a se acabarem com as bebidas alcoolicas e com as drogas como se a vida não lhes valesse nada. Em parte digo que foi bom que não herdi nada porque teria sido um tolo como muitos que no dia a dia nada fazem para o seu futuro se não roubar aos que sacrificam-se em criar e realizarem os seus projectos e sonhos.


Sanjo Muchanga

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Aos Incorporados



Aos Incorporados

Vaquiti, lhalelane moya ya mbique
Terra de humildade desconfortada
Pátria da paz ameaçada anualmente
Pátio dos debates sem produtividade.

As vezes cantam as saudades de ontem
Das filas prolongadas na cooperativa
Das horas do trabalho vigilante no bairro
E das denúncias e renúncias do banditismo.

Vaquiti, lhalelane moya ya mbique
Terra dos conflitos armados mal arrumados
Campo do crime organizado não desmantelado
Cinema de tráficos e sequestros não evitados

As vezes dizem que não temos a policia
Senão vigilantes dos carros em lugares incertos
Ah… tem vergonha de içar a bandeira a toa
Para celebrar o que acho que não existe irmão.

Sanjo Muchanga

Partida para Sempre



Partida para Sempre

Amanhã sem falta vou partir
Não levarei comigo nada de você
Estou com de coração partido e ferido
Com os olhos inchados de chorar

Vou partir para sempre sem você
Deixarei todas as suas lembranças
Para que não me provoque lembranças
Quando um novo amor encontrar


Não pensarei em você na viagem
Para acidentalmente me arrepende
A sua cicatriz no peito vou tirar
Ao longo dos dias da minha viagem

Com as outras miragens da paisagem
Que encantaversa os pássaros ao alto
E guia o meu destino desconhecido
Aos outros amores nos outros lugares.

Sanjo Muchanga

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Mulher e Poesia

 
Mulher e Poesia

Faz-me feliz saber que sou tua mulher
De ti colho ao raiar do sol um lindo poema
De ti mereço muitos carinhos sem doer
Esta minha coitada ferida grudada na alma

Faz-me feliz acordar sempre ao teu lado
Sentir o calor dos teus abraços com ternura
Sentir a doçura e o gemido do teu corpo amado
Nesta requintada noite de sabor da loucura

Quero sempre ser a mulher sem ódio e nem dor
Ser amada como a flor que me ofereces neste dia
Ser a emoção que envolveste nos versos desta poesia

Quero sempre ser a mulher de alegrias e do amor
Que as estrelas oferece aos enamorados de noite
Pois para toda vida serei sempre tua até a morte…

Sanjo Muchanga
 
 

Maior Desgosto



Maior Desgosto


Quero alguém para curar a minha dor
Passei quase toda noite sem amor
E nem vontade de escrever o que mas gosto
Tudo graça ao meu maior desgosto

Que a musa dos meus sonhos me deu…
Realmente me custa acreditar, mas aconteceu
Dizem os meus amigos que foi em Dezembro
Mas juro que já não me lembro

O que terá lhe feito virar uma prostituta
Depois de tantas lutas e disputas
Daquele seu sorriso como duma estrela

Coitado de mim que ainda lhe amava
Se eu soubesse o que ela pensava
Terias jogado do o meu amor pela janela.

Sanjo Muchanga

Curvo a Gentileza Eterna



Curvo a Gentileza Eterna
Se o medico me fizer uma gentileza
Eu lhe enviarei no papel uma trova
Onde exponho a minha dor e incerteza
Que me põe entre a vida e a cova
Porque na trova eu me liberto
Não escondo no peito a certeza
Que a cada dia da manha desperto
Curvo a gentileza eterna da natureza
Que os meus dias acelera a tuberculose
Deitado na cama do hospital entre a dor
Que mata a cada tose o pobre trovador
E o medico gentil me dando a última dose
Que acaba com a minha incerteza na alma
Quando a gentileza escapa em lágrima





Sanjo Muchanga

A Paz



A PAZ…

Não é uma música que qualquer um deve cantar
Não é o tormento que o povo deve derramar
Não é a glória de politiquismo dos arrogantes
Muito menos o troféu dos principiantes

Não é promover o roubo em nome da pobreza
Não é colocar rostos de inimigos na sua alteza
Para ofender e denegrir o que ainda resta da liberdade
Do povo que luta pelo seu saber da verdade

Não é uma lenda ou banda desenhada senhores
Não me façam derramar lágrimas de dores
Em nome da vossa cobardia seus sacanas

Não matem os meus irmãos em nome dessa vossa ambição
Tragam-nos a paz que merecemos na nossa canção
Ao entoar do nosso Hino Nacional nas capulanas.

Sanjo Muchanga